O vice-presidente da Aciub, Sérgio Tannus, participou na última segunda-feira (5) da reunião conjunta de quatro conselhos superiores da Fiesp – do Agronegócio (Cosag), de Comércio Exterior (Coscex), de Meio Ambiente (Cosema) e de Infraestrutura (Coinfra), que teve como tema ‘O Futuro da Indústria Automobilística no Brasil’. A reunião foi aberta chamando a atenção para o fato da indústria, como um todo, puxar o desenvolvimento. Foram destacadas mudanças que afetam o setor, caso da Indústria 4.0, com enfoque nas transformações no ramo automotivo.
A expectativa de que nos próximos 10 a 20 anos haverá mais mudanças na indústria automobilística que as vistas nos últimos 100 anos, motivou este enfoque específico no setor. Segundo Björn Hagemann, da McKinsey, que participou da reunião, carro elétrico, autônomo, compartilhado e conectividade são os quatro grandes temas em evidência. Ele citou que o Brasil é um mercado importante da mobilidade compartilhada, afirmando que quem roda até 8.000 km por ano gasta menos usando serviços compartilhados que tendo carro próprio.
Em relação aos carros autônomos, a expectativa é que modelos de passeio devem surgir primeiro nas áreas urbanas, sendo possível que sejam por meio de uma melhoria nos modelos existentes, com custo relativamente baixo para deixá-los parcialmente autônomos, ou por meio da criação de modelos totalmente novos, o que ainda é caro, mas deve ocorrer no futuro. Apesar da expectativa desta novidade, foi lembrado que o Brasil não deve estar entre os primeiros a adotar carros autônomos, por características como o tráfego de motocicletas e o baixo respeito às regras de trânsito.
Na questão do carro elétrico, de acordo com a McKinsey, a projeção é que de 10% a 30% dos veículos novos vendidos no Brasil em 2030 serão elétricos. Hageman avaliou que alguns mercados importantes vão forçar a adoção dessa tecnologia – caso da China, que vê na eletrificação uma chance de mudar a indústria automobilística e liderar o processo. Índia, Europa e Estados Unidos são outros grandes mercados. Preço e disponibilidade de matéria-prima são problemas, mas eles devem ser resolvidos. Sobre a conectividade, Hageman ressaltou que no Brasil ocorre menos difusão que em outros países, mas o aumento do alcance deve criar oportunidades de negócios no país.
Outra questão tratada foi o uso do etanol. A diretora presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Única), Elizabeth Farina, fez exposição com o tema ‘A expansão dos veículos elétricos e política pública’. Motores a etanol hidratado (e100) emitem cerca de um terço do CO2 de motores a gasolina, enquanto os híbridos emitem 35% menos que os carros somente com motor a combustão. Segundo Farina, a observação da matriz elétrica mostra que com tecnologias já disponíveis no Brasil as emissões de carros podem ser mais baixas (híbridos flex emitem 24 g de CO2 por km rodado). Na China e na Índia o carro elétrico emite muito mais que os híbridos flex brasileiros. A convidada destacou, ainda, que o Brasil tem vantagem comparativa e competitiva da tecnologia flex, pois híbridos flex e veículos elétricos com célula a combustível utilizam infraestrutura e tecnologia já instalada. A disponibilidade do biocombustível no Brasil foi garantida pelo RenovaBio, enquanto o programa Rota2030 trata do desenvolvimento dos motores. Este programa valoriza especialmente a pesquisa e o desenvolvimento, melhora a eficiência energética, valoriza os biocombustíveis e traz mais competitividade e previsibilidade ao setor automobilístico.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antônio Megale, disse que pesquisa da entidade mostra que o carro continua a ser o meio de transporte preferido por todas as gerações, alertando que veículos a bateria ainda enfrentam problemas como custo das baterias e seu descarte – e ainda há um longo caminho a percorrer para saná-los, apesar do forte trabalho em execução. Para ele, a maior eficiência do motor elétrico, no futuro deve predominar em relação a combustão.
Ainda segundo Antônio Megale, cada região do mundo busca a melhor solução de acordo com sua realidade e no Brasil uma solução bastante conhecida é a dos veículos flex. Parte do programa do etanol, que deu certo e é o maior do mundo, pode ser usada para novas tecnologias, sendo ideal para as células de combustível. Estas células de combustível, que são dispositivos que transformam hidrogênio em eletricidade por meio da conversão da energia química em energia elétrica.
*Com informações Agência Indusnet Fiesp / Foto: Helcio Nagamine/Fiesp