
A ligação entre o setor automotivo e o sucroalcooleiro foi descrita como “umbilical” pelo presidente do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Fiesp, Jacyr Costa, em reunião realizada na segunda-feira (28/4) que contou com a presença do vice-presidente da Aciub e Conselheiro do Cosag, Sérgio Tannus.
Criado em 1975, durante a crise do petróleo, o Pró-Álcool foi a alternativa encontrada pelo Brasil para escapar da alta do preço internacional do petróleo. O objetivo do programa era incentivar o uso do etanol como substituto da gasolina, para reduzir a dependência externa.
Ao contrário do que alguns especialistas previam, o “carro a álcool” foi bem aceito no mercado nacional e até o início dos anos 1980 cerca de 90% dos carros novos vendidos no Brasil eram movidos a álcool. Atualmente, cerca de 80% dos carros são flex.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Igor Calvet, disse que a posição da entidade é de neutralidade em relação às rotas tecnológicas, mas considera a indústria automotiva brasileira e a indústria de biocombustíveis irmãs.
“A descarbonização é o fio condutor de nossas ações e queremos reduzir as emissões de CO2 lançadas na atmosfera. Porém, não sabemos o que vai prevalecer em termos de tecnologia de propulsão. Existe uma tendência muito clara para 2040 (de eletrificação), mas a Anfavea continua sendo muito eclética, no sentido de que não optar por uma ou outra tecnologia”, disse Calvet. No Brasil, os carros híbridos, com motor elétrico e a combustão, vêm ganhando espaço.
O presidente da Anfavea classificou como uma janela de oportunidade a tecnologia dos biocombustíveis no Brasil, mas adverte que os novos entrantes do mercado produzem em larga escala e tentarão influenciar o mundo a adotar a sua tecnologia, de carros totalmente eletrificados, como dominante no setor automotivo ao longo dos próximos anos.
“Se vamos ter condições ofertar o etanol ao mundo eu não sei, mas o fato é que precisamos ter uma fonte de desenvolvimento tecnológico suportável do Brasil. De outra forma, seremos doutrinados por tecnologias meramente estrangeiras. Eu não sou contra nenhuma tecnologia estrangeira, mas estou reforçando um pouco isso porque a indústria automotiva é global e muito intensiva em capital”, pontuou.
Calvet explicou que o objetivo não é apenas que a fabricação aconteça no Brasil, mas também que se possa transferir as tecnologias desenvolvidas localmente para fora do nosso mercado. “O mercado mundial automotivo gira em torno de 86 milhões de veículos vendidos por ano. E desse total apenas 2,6 milhões são absorvidos pelo mercado brasileiro. Ou seja, representamos apenas cerca de 3,5% do mercado global, uma participação muito pequena”, comparou.
Somente a China, de acordo com Calvet, vende aproximadamente 30 milhões de veículos por ano. Assim, o grande desafio é o tamanho do mercado e as tendências que o seguem. “Novos entrantes aparecem no mercado quase todos os dias, com tecnologias desenvolvidas fora do Brasil, tecnologias já prontas, das quais não participamos do desenvolvimento e não capturamos a maior parte do valor agregado. Além disso, não conseguimos exportar essas tecnologias”, lamentou.
Para ele, isso representa um risco enorme para o Brasil, porque o mercado de outros competidores é dezenas de vezes maior que o nacional. “Se não nos posicionarmos melhor, continuaremos com uma participação muito pequena e dependente de tecnologia estrangeira. É necessário haver uma coordenação intersetorial, não apenas focada no próprio setor, mas visão de cadeia. E não se pode pensar na indústria automotiva sem pensar no setor dos biocombustíveis”, concluiu.
Via: Alex de Souza / Adaptado