Reunião na Fiesp debateu os impactos da conferência para o desenvolvimento socioeconômico, o financiamento climático e a projeção internacional da agroindústria brasileira

Os resultados da COP30 para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil e para sua agroindústria foram debatidos na reunião conjunta dos Conselhos Superiores do Desenvolvimento Sustentável (Condes), do Agronegócio (Cosag), de Economia (Cosec) e de Comércio Exterior (Coscex) da Fiesp, realizada na segunda-feira (15/12). O representante da Aciub no Cosag, Sérgio Tannús, vice-presidente da entidade, participou do último encontro do ano.
Convidado para expor o tema, o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, afirmou ter ficado “muito impressionado” com o nível de comprometimento da indústria e do setor privado, classificando esse engajamento como um avanço relevante, sobretudo por partir de países em desenvolvimento.
Segundo ele, a conferência — realizada de 10 a 21 de novembro, em Belém (PA) — reforçou o papel do Brasil no debate internacional sobre mudanças climáticas ao promover ações voltadas ao enfrentamento da crise climática e à conservação das florestas, sem perder de vista o equilíbrio com o desenvolvimento econômico e social.
Corrêa do Lago destacou que a COP30 buscou se afirmar como uma conferência de ação e implementação, com base na ciência e na ampla participação de diferentes setores da sociedade. Ressaltou, contudo, os desafios de conciliar interesses diversos e a urgência climática em um ambiente de negociações complexas.
Para o diplomata, a cooperação entre países é o único caminho para enfrentar a crise climática, tendo a ciência, a educação e a cultura como pilares fundamentais para o avanço da agenda ambiental. Nesse contexto, a COP30 funcionou como um verdadeiro “mutirão global” de mobilização da sociedade, com atenção especial aos temas de adaptação e de perdas e danos.
Entre os principais legados da conferência, o embaixador citou o “Mapa do Caminho de Baku a Belém”, iniciativa liderada por ele e por Mukhtar Babayev (COP29), que estabelece um plano para mobilizar US$ 1,3 trilhão anuais até 2035 em financiamento climático para países em desenvolvimento. A proposta parte do princípio de que os recursos já existem, mas precisam ser mobilizados com urgência, escala e melhor coordenação.
O plano está estruturado em cinco pilares estratégicos:
- Reabastecer doações, ampliando o financiamento concessional;
- Reequilibrar dívidas, por meio de trocas de dívida por investimentos climáticos;
- Redirecionar capital privado, reduzindo riscos e o custo de capital;
- Reforçar capacidades, com maior coordenação entre bancos de desenvolvimento;
- Reformular sistemas, promovendo fluxos financeiros mais justos e eficientes.
Segundo Corrêa do Lago, “o dinheiro está disponível”, mas precisa ser realocado, cabendo aos recursos públicos o papel de atrair o capital privado, e não de substituí-lo.
Enviado especial da COP30 para a Agricultura, Roberto Rodrigues afirmou que a conferência representou um salto histórico na projeção internacional da agricultura tropical brasileira. “A COP30 foi muito melhor do que esperávamos”, avaliou. Para ele, o Brasil conseguiu demonstrar de forma concreta a dimensão tecnológica e sustentável de seu agronegócio no espaço AgriZone, instalado na sede da Embrapa, em Belém.
A presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Silvia Massruhá, reforçou que o agronegócio pode ser parte da solução para as mudanças climáticas, e não apenas um agente causador. Segundo ela, o principal legado da COP30 para a agricultura brasileira será o impulso à plataforma de agricultura de baixo carbono e resiliente, com práticas de agricultura regenerativa e ênfase nos sistemas agroflorestais (SAFs).
Durante a conferência, a Embrapa lançou o plano AgForest, voltado à aceleração da bioeconomia por meio da inovação agroflorestal, e o AgriZone se consolidou como espaço estratégico de diálogo do setor com a agenda climática. Massruhá destacou que os SAFs são um modelo crucial por otimizar o uso da terra, conciliar produção de alimentos e preservação ambiental, conservar o solo, reduzir a pressão sobre áreas florestais e promover a biodiversidade.
Copresidente do Painel Internacional de Recursos Naturais da ONU, Izabella Teixeira avaliou que a COP30 teve uma “dimensão nacional”, ao mobilizar a sociedade brasileira e o setor privado em torno da agenda climática e do desenvolvimento sustentável. Segundo ela, a conferência conseguiu ampliar o debate para além dos círculos diplomáticos, incorporando-o à discussão estratégica sobre o futuro do desenvolvimento do país.
Presidente do Cosag a partir de janeiro de 2026, a senadora Tereza Cristina (PP-MS) ressaltou que o Brasil é um dos poucos países com potencial competitivo para uma economia de base renovável, capaz de conciliar a produção de alimentos, fibras e energia com a preservação dos recursos naturais. Defendeu ainda a participação ativa do setor agropecuário como oportunidade para evidenciar a sustentabilidade da produção nacional.
O atual presidente do Cosag, Jacyr Costa, reforçou o compromisso da Fiesp em continuar articulando o diálogo entre governo, iniciativa privada e comunidade científica para fortalecer um agronegócio cada vez mais sustentável e competitivo.
Já o vice-presidente da Fiesp e Climate Champion da COP30, Dan Ioschpe, destacou o papel estratégico dos biocombustíveis — especialmente o Combustível Sustentável de Aviação (SAF) — na transição energética dos setores aéreo e de navegação, considerados de difícil descarbonização. Segundo ele, o SAF pode reduzir em até 80% das emissões do setor aéreo.
“É um momento que precisamos aproveitar. A forma como o setor se posicionou na COP30 será muito positiva para o futuro. Todo o trabalho realizado na conferência ainda dará muitos frutos”, concluiu Ioschpe.
Fonte: Fiesp