A reunião do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Fiesp desta segunda-feira (4/12), abordou três temas relevantes para o setor: os 73 novos mercados abertos neste ano, a recuperação de pastagens degradadas para aumentar a área cultivada e o agronegócio como indutor do desenvolvimento social. O vice-presidente da Aciub, Sérgio Tannus, esteve presente na reunião representando a associação.
O secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária, Roberto Perosa, foi o primeiro a falar. Em sua exposição, mostrou números do setor e também tendências. Até outubro, o Brasil exportou US$ 140 bilhões e, segundo ele, é provável que o país ultrapasse o recorde do ano passado. A China segue sendo o maior destaque, despontando novamente como um grande comprador, principalmente de soja em grãos. Hoje, 72% da soja exportada pelo Brasil têm como destino a China.
“O destino das exportações é um orientador da nossa política. Para cada dólar exportado para a União Europeia, vendemos quase três dólares pra China. Para cada dólar exportado para os EUA, vendemos quase sete para a China. Só este dado não deixa dúvidas de quem é o nosso grande parceiro comercial”, frisou Perosa.
Ele ressaltou ainda que o Brasil é o primeiro do mundo na produção de soja, açúcar, café, laranja, carne bovina e de frango, milho, carne suína e algodão, mas que é preciso prestar atenção também na penetração dos produtos no exterior. A carne de frango, por exemplo, foi vendida para 159 países, e o café, para 136 países. A abertura de novos mercados é um dos objetivos do governo. Neste ano, o Brasil conseguiu entrar em 73 novos países, sendo 29 deles nas Américas e 25 na Ásia.
“E isso não é por acaso. Nas Américas, a retomada do diálogo com os países vizinhos proporcionou esse crescimento. Fazia 20 anos que o Brasil pleiteava abertura do mercado de suínos para o México e, este ano, conseguimos. É um mercado gigantesco para a carne suína brasileira”, celebrou Perosa.
Para o futuro, ele acredita ser possível produzir ainda mais, e com responsabilidade e sustentabilidade. “A área produtiva no Brasil cresceu 140% nos últimos 50 anos e a produtividade cresceu 580%. Acreditamos que podemos crescer mais e, por isso, surgiu o Programa de Recuperação de Pastagens Degradadas”, discorreu Perosa. Segundo ele, um estudo da Embrapa detectou 160 milhões de hectares em áreas de pastagens. Dessa área, 100 milhões de hectares estão em áreas degradadas e uns 40 milhões a 50 milhões de hectares são áreas que estão aptas para conversão de pastagens degradadas para a agricultura.
Perosa acredita que é possível fazer essa conversão em 10 anos, uma vez que o país já possui tecnologia. A estimativa é que, para recuperar 40 milhões de hectares será preciso investir US$ 3 mil, em média, para cada hectare. Nesta conta estão incluídos insumos, maquinários e custeio.
“Seria um plano de US$ 120 bilhões para ser desenvolvido em 10 anos. Desde julho, conseguimos comprometimentos de empresas privadas, e fundos soberanos no valor de R$ 12 bilhões. Temos parceria com o Banco do Brasil e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Com esse investimento vamos dobrar a produção de alimentos em 10 anos, preservar florestas e reduzir emissões, além de gerar emprego, renda e exportações”, afirmou.
Além de dobrar a produção, a ideia é que ela seja certificada e rastreada. “Temos excelentes condições naturais, nosso maior ativo é o clima e é o que nos garante a alta produtividade. Temos tecnologia de ponta que propicia múltiplas colheitas por ano, temos uma participação expressiva o mercado internacional, temos respeito ao meio ambiente”, afirmou.
Segundo Perosa, hoje, os transgressores da lei no agro representam menos de 2% da cadeia. “Isso faz com que a gente tenha ainda mais credibilidade e almeje aproveitar esse grande potencial de expansão do Brasil e de forma sustentável”, diz ele, para quem este programa de conversão de pastagens será uma grande virada de chave. “Temos uma janela de oportunidade nos próximos 20 anos como nunca tivemos”, concluiu.
Desenvolvimento social
Na segunda apresentação da reunião, o engenheiro agrônomo Francisco Graziano Neto, professor do MBA da Fundação Getúlio Vargas, disse que é preciso mudar o discurso de que o agronegócio move o PIB do país. Para Graziano, o setor faz muito mais, é um indutor do desenvolvimento social.
“O PIB do agro foi 24,8% do PIB nacional no ano passado. A conclusão é que o agro está puxando o PIB do Brasil e está quebrando o paradigma de Rostow, de que, no processo do desenvolvimento econômico, a agricultura seria um setor retardatário da economia. E estamos quebrando esse paradigma da economia mundial, mas não estamos contando direito a nossa história”, disse Graziano.
De acordo com ele, o agro está interiorizando o desenvolvimento do Brasil, algo muito maior do que puxar o PIB. “Estamos falando em economia social e desenvolvimento humano. Estamos falando de saúde, educação e qualidade de vida”, pontuou.
Ele aproveitou a oportunidade para apresentar seu trabalho sobre a influência do agro tecnológico no desenvolvimento dos municípios brasileiros. A pesquisa cruzou dados de municípios nos estados do Maranhão, Piauí, Bahia, Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, desde 1991 até hoje. Foram avaliados o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), mortalidade infantil e o PIB por habitante.
“Em 20 anos, o IDH dos municípios estudados no Maranhão (Balsas, Alto Parnaíba e Tasso Fragoso), deixaram para trás os de outras cidades. A mortalidade infantil caiu mais do que a média do estado, o PIB aumentou. E só tem um vetor para isso, que é o desenvolvimento do agro nessas cidades”, disse Graziano.
Segundo ele, em todos os municípios estudados, a evidência é a mesma: o IDH sobe, o Ideb ultrapassa o do estado, a mortalidade infantil cai e o PIB per capta aumenta. “O agro tem uma força maior do que enriquecimento, ele promove a interiorização do desenvolvimento. A força econômica do agro é capaz de gerar um processo de pleno desenvolvimento econômico, social e humano pelo interior do país”, afirmou.
Futuro da Embrapa
O ex-presidente da Embrapa, Silvio Crestana, foi o terceiro convidado de Jacyr Costa, presidente do Cosag, para o encontro. Ele foi compartilhar sua experiência à frente do Grupo de Trabalho do Serviço Nacional de Pesquisa Agropecuária. Este grupo foi criado no início do ano pelo ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, para rever o sistema de pesquisa agropecuário e pensar no futuro da Embrapa. Em outubro, foi entregue ao ministro um relatório final com sugestões de ações e mudanças para a modernização da instituição.
Quatro eixos foram avaliados minuciosamente. O primeiro foi o dos sistemas estratégicos e o impacto nas pesquisas, o segundo analisou o modelo de gestão adotado há 50 anos, o terceiro foi o modelo jurídico e o último eixo abordou os financiamentos de pesquisas.
“A Embrapa foi fundamental nos últimos 50 anos. A pergunta é: continuará relevante nos próximos anos? A gente precisa olhar os desafios que estão colocados. A complexidade aumentou. Precisamos fazer um rápido diagnóstico sobre as instituições de pesquisa agropecuárias. Hoje a iniciativa privada tem um papel relevante nas pesquisas e temos que repensar o sistema, tendo a iniciativa privada no interior e, claro, preservando a pesquisa pública”, disse Crestana. “Nossa expectativa é que parte desse relatório seja aproveitado. Terminamos nossa missão consultiva e, agora, a responsabilidade é do governo federal. Aguardamos um plano de ação de curto, médio e longo prazo”.
Via: FIESP