Notícias

Reunião do Cosag discute os desafios para a sustentabilidade do agronegócio

Na Fiesp, representantes de instituições que financiam o setor rural debatem os riscos cambiais, a volatilidade dos preços e o peso dos juros para o produtor.

Para discutir o financiamento para o agronegócio, a reunião do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Fiesp, realizada na segunda-feira (6/10), trouxe para o debate especialistas de instituições financeiras e do setor produtivo. O vice-presidente da Aciub e representante da entidade no Conselho, Sérgio Tannús, acompanhou a discussão.

Para o diretor de Agronegócio do Banco Itaú, Pedro Barros Barreto Fernandes, margens em queda e o risco cambial pressionam o produtor. Isso porque o setor enfrenta o que ele classificou como “tempestade perfeita”, com a combinação de fatores como a queda do preço da soja, em reais, nos últimos três anos, a redução da rentabilidade e a elevação dos juros, o que vem comprimindo as margens de quem produz.

Ele também frisou a importância de acompanhar as mudanças regulatórias, como a Resolução 4.966/2021, do Conselho Monetário Nacional, que torna mais rígidas as regras de alocação de capital e provisão bancária. A nova norma limita a flexibilidade do sistema financeiro em renegociações de crédito, deixando o ambiente mais sensível a quebras de safra e variações de preço.

“Plantar com dólar a R$ 5,60 e colher abaixo de R$ 5 é um risco real. Temos trabalhado fortemente na gestão de risco de preço e câmbio para proteger o produtor”, afirmou, acrescentando que a carteira de crédito do banco deve crescer cerca de 12% neste ano, mantendo ritmo semelhante em 2026.

Alavancagem – Já no entendimento do diretor de Agronegócios do Banco Santander, Carlos Aguiar Neto, a atenção deve se voltar ao aumento do endividamento do setor. Ele lembrou que, há dois anos, houve um período excepcional de preços e margens elevadas, o que incentivou produtores a expandirem investimentos de forma agressiva. Agora, entretanto, a conta veio.

“Chegamos a ter margens de 45% em grãos, algo insustentável. Hoje, as margens voltaram ao nível histórico, próximas de 10%, enquanto a Selic saltou de 2% para 15%”, observou. Para ele, essa correção era prevista.

“É necessário melhorar a gestão e reduzir a alavancagem. Não dá para esperar que o mercado resolva o problema sozinho”, afirmou. E destacou o risco adicional dos contratos de arrendamento, que foram precificados em um cenário de rentabilidade alta e agora pesam sobre o caixa dos produtores. “Quem paga juros e arrendamento na margem atual perde a capacidade de investir”, avaliou.

O vice-presidente de Agronegócios e Agricultura Familiar do Banco do Brasil, Gilson Bittencourt, concorda que há necessidade de correção dos excessos de crédito dos últimos anos. “Houve, sim, um financiamento acima da capacidade”, declarou, destacando o aumento da inadimplência.

Ele observou que os financiamentos vinculados a contratos de arrendamento apresentam o dobro da inadimplência em relação à média do setor e defendeu medidas para preservar os produtores arrendatários.

A inadimplência cresceu em todas as instituições financeiras e levou o sistema a adotar uma postura mais cautelosa nas concessões. Segundo Bittencourt, não se trata de uma decisão isolada de um banco, mas de um movimento generalizado do mercado financeiro diante do aumento do risco.

Cautela e planejamento – Para o superintendente de Agronegócio do Sicredi, Vitor Hugo da Silva Dantas de Moraes, embora a carteira de crédito do cooperativismo deva crescer cerca de 10% até 2026, o momento exige prudência e planejamento. “O produtor precisa antever os possíveis problemas e enxergar o seguro como instrumento essencial para proteger seu negócio”, afirmou.

Ele ressaltou que, além da alavancagem, há obstáculos estruturais que afetam o acesso ao crédito, como a documentação e a burocracia, especialmente entre pequenos e médios produtores. “Esses gargalos ainda limitam o fluxo de financiamento para parte importante do setor”.

O superintendente da Área de Operações em Canais Digitais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Marcelo Porteiro, destacou que o banco vem ampliando o apoio a projetos de geração de energia com condições incentivadas e anunciou novas iniciativas voltadas à liquidez das empresas do agro. “Temos uma linha de liquidação de dívidas de R$ 12 bilhões com taxas competitivas, e o programa Brasil Soberano, que disponibiliza R$ 30 bilhões para capital de giro de empresas afetadas pelas tarifas norte-americanas”, afirmou.

Segundo ele, o BNDES precisa ouvir o setor e oferecer respostas efetivas. “Especialmente neste momento de margens comprimidas”, disse, reforçando o papel do banco público como instrumento de estabilidade em períodos de maior incerteza econômica.

O diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno B. Lucchi, chamou a atenção para o crescimento da inadimplência no setor, que atingiu o maior nível desde 2011, chegando a 7,6%. Apesar disso, destacou avanços no uso de instrumentos de mitigação de risco. “O seguro rural cresceu muito, e os produtores que o adotaram conseguiram se blindar contra perdas mais graves”, disse.

Por fim, o superintendente de Securitização e Agronegócio da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Bruno Gomes, apresentou uma proposta que pode ampliar as alternativas de financiamento privado para o campo. “A consulta pública sobre a modernização da Resolução CVM 88 permitirá que pessoas físicas emitam títulos de dívida para securitização no mercado, abrindo novas oportunidades de captação para o agro”, concluiu.

Fonte: Fiesp

Continue lendo