As vantagens do clima no Brasil podem possibilitar à irrigação render até três safras por ano, segundo especialistas que debateram esse tema no primeiro encontro do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O vice-presidente da Aciub, Sérgio Tannus, participou desta reunião que teve como pauta “Irrigação para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro”, com a presença do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, do presidente da Associação Brasileira de Produtores de Milho (Abramilho), Alysson Paolinelli, da diretora-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Christiane Dias, e outros convidados.
Um dos dados apresentados no início da reunião, que ocorreu em 3 de fevereiro, foi que o Brasil tem 6 milhões de hectares irrigados, sendo que quase 3 milhões estão no cerrado. O presidente da Abramilho, Alysson Paolinelli, defendeu a agricultura tropical sustentável e observou que a água é fator essencial: “Temos no Brasil doze meses de sol, luz e calor que dá às plantas condições necessárias para seu desenvolvimento permanente. Precisamos manejar bem esse fator preponderante que é a água. Com a irrigação, podemos pensar em até três safras por ano”. Ele defendeu, ainda, que os mananciais sejam cuidados, com a manutenção dos rios, sob responsabilidade do produtor, reduzindo assim a burocratização. “Chame o produtor e dê a ele a função de manutenção. Se ele não cumprir, não terá direito ao uso da água”, exemplificou. Ele lembrou, ainda, que a irrigação na primeira safra garante o aumento de produtividade entre 15% e 17%. Na terceira safra, de 30%, e, se houver a terceira safra, em 100%. “Dobramos a safra brasileira só com irrigação”, completou.
Segundo a diretora-presidente da ANA, Christiane Dias, o uso da irrigação é de 70%. Ela explicou sobre a atuação da agência. “Temos a competência de garantir a segurança hídrica nacional. Fazemos a gestão e regulação dos recursos hídricos. Mas essa gestão é muito complexa pelo fato de ser descentralizada e participativa”, avaliou. O Brasil tem cerca de 12% das reservas mundiais de água doce do planeta. Mas essas reservas são mal distribuídas e há “dificuldade em dar outorgas é porque temos rios federais e estaduais. Um nasce e deságua dentro do outro”, detalhou.
O pesquisador da Embrapa Instrumentação São Carlos, Luiz Henrique Bassoi, lembrou que a agricultura demanda muita água em qualquer parte do mundo. “Irrigação é estratégia ou necessidade, de acordo com a região. Dados do IBGE mostram que, para cada real gerado, foram consumidos em média 6 litros de água. A irrigação usa quase 92 litros de água por real; a indústria de transformação, quase 8 litros; e a indústria extrativa, quase 3 litros”, alertou.
Já o diretor da Embrapa, Cléber Soares, apresentou o mapeamento das agritechs, startups de tecnologia focadas no agronegócio, no período de julho de 2018 e 2019. “Temos um sistema de inovação agropecuária muito sólido no Brasil, que favorece o surgimento dessas novas startups. Foram mapeadas 1.125 agritechs. Na região Sudeste, mais de 50% estão no Estado de São Paulo. Vinculadas antes da porteira são 196, 400 dentro da porteira, e mais de 500 fora da porteira”, revelou.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, destacou na reunião que o tema da primeira reunião do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), agendada para março, tratará de uma resolução que impõe restrições à reservação de água dos espelhos em área de preservação permanente. “Uma das prioridades será essa pauta para aumentar a capacidade de reservação e simplificar o modelo que permita a agricultura irrigada”, justificou o ministro.
Por fim, Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP), encerrou o debate concluindo que “a discussão se mostrou norteadora para o futuro da prática de irrigação na agricultura. É possível usar a água com sabedoria e poupar energia com alta produtividade”, concluiu.
Informações extraídas da reportagem de Cristina Carvalho, da Agência Indusnet Fiesp