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Aciub participa de rodada de debates com candidatos à Presidência na sede da Fiesp e do Ciesp

Os candidatos à Presidência da República foram convidados a participar de diálogo com diretores, conselheiros, sindicatos e associados da Fiesp e do Ciesp sobre propostas para o Brasil, na sede das entidades. O primeiro encontro, com Ciro Gomes, ocorreu nesta quinta-feira (21/7). O vice-presidente da Aciub, Sérgio Tannus, que representa a Associação na Fiesp, participou do encontro.

Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp, abriu o encontro destacando a preocupação com a queda de participação da indústria de transformação que, nos anos 1980, chegou a representar mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) e a maior taxa de crescimento média composta anual do mundo (mais de 7%). Hoje representa menos de 11% do PIB.

“É triste vermos na cidade de São Paulo 65 mil moradores de rua e, no Brasil, 33 milhões de pessoas em insegurança alimentar. A indústria de transformação, recuperando seu dinamismo, poderá garantir crescimento econômico a taxas aceleradas para que nós possamos superar nossos problemas, principalmente os sociais. Afinal de contas, a indústria de transformação é a que tem o maior multiplicador econômico (cerca de 2,4 vezes). É a indústria de transformação que participa com 67% do total em investimentos em pesquisa e desenvolvimento no país. É ela quem paga, em média, os melhores salários” comentou Josué.

Ciro Gomes enfatizou que a sede da crise brasileira está no estado de São Paulo e a saída também. Ele frisou o cenário histórico complexo e a crise renitente na qual vive o Brasil diante da incapacidade de se superar o velho modelo nacional desenvolvimentista que perdurou entre 1930 e 1980. Em sua avaliação, houve um consenso à época, com a premissa que o Brasil precisava se modernizar e a modernidade era sinônimo de indústria e assim o país cresceu entre 6 e 7% ao ano ao longo de 50 anos, produzindo a 15ª economia do mundo.

“Esse modelo se exauriu e foram abandonadas duas premissas básicas: ter poupança doméstica, sem espancar o capital estrangeiro – que antes era barato e de longo prazo –, e a não formação de inteligência qualificada frente à disputa tecnológica em curso”, disse.

Crédito: Ayrton Vignola/Fiesp

Ciro questionou a baixa e deficiente formação de capital e de formação humana, consequência de arranjos institucionais e de como se organizam os modelos no mundo moderno, além do casamento das relações de poupança e investimentos de longo prazo. Como resultado, alto nível de informalidade do trabalho, o desemprego aberto e o desalento da população jovem frente à evasão escolar de 60% no nível Médio. Outros entraves a serem superados dizem respeito a 78% das famílias – 6 milhões – que se encontram inadimplentes e a dívida pública no patamar de R$ 7 trilhões, que aponta para a necessidade de uma reforma tributária possível diante do endividamento elevado.

Ele criticou também a mistificação da globalização, lembrou que é preciso voltar o olhar para condições práticas, que são as nacionais e locais – 7 em cada 10 empregos vêm das pequenas empresas –, destacando o valor do empreendedorismo. E ressaltou a dificuldade existente quando o país impõe “a maior taxa de juros do planeta e a economia tende a morrer”.

“A proposta é não repetir o mesmo modelo econômico e de governo”, afirmou Gomes, e sinalizou três movimentos necessários: elevar o nível de produção, adotar novo modelo previdenciário e tributário e redesenhar o mercado de capitais. Outro ponto é a pacificação, ‘espancar as paixões ideológicas’ em prol do crescimento com planejamento e apoio da iniciativa privada. E, por fim, o que chamou de sólido e definitivo investimento em ‘gente’, na educação, na formação de capital humano. Ou seja, consolidar um pacto nacional obediente a uma estratégia. “O projeto define o papel,” afirmou.

Nesse sentido, apontou quatro medidas de curto prazo: socorrer as famílias endividadas, pois o consumo delas vem da soma de emprego, renda e crédito e movimenta porcentagem expressiva do PIB, impulsionando seu crescimento. O mesmo ocorre com as empresas: 6 milhões se encontram endividadas. Em sua visão, é preciso refinanciar as empresas e incrementar reservas cambiais com Fundo Soberano a ser administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). E, ainda, retomar o investimento público: o Brasil possui um dos maiores orçamentos do planeta, superior a R$ 4 trilhões, mas sobra pouco para investimento.

Perguntas da indústria

Ciro Gomes respondeu várias perguntas dos empresários que estavam presentes. Entre os temas, educação no Brasil, que, segundo ele, precisa mudar o paradigma pedagógico, adequando-se aos tempos digitais e das novas tecnologias com a requalificação do corpo docente, além de capacitar tecnologicamente as escolas.

O candidato defendeu fazer uma reforma tributária bem justificada e embasada para que essa de fato aconteça, e considerando a Previdência como algo intimamente ligado à tributação.

Sobre descarbonização e meio ambiente, enfatizou que é preciso incentivar a cultura sustentável e apontou que a grande saída se encontra na energia, ressaltando a importância de uma transformação na Petrobrás.

Ele destacou, ainda, a ampliação concorrencial entre os bancos a fim de garantir melhores tarifas para o povo e tratou de medidas para a retomada das obras paradas e dos investimentos em infraestrutura.

No encerramento do encontro, Josué entregou o documento “Diretrizes Prioritárias Governo Federal 2023-2026” para Ciro Gomes.

Acesse aqui o Sumário Executivo.

Fiesp e Ciesp acreditam que nesse momento de retomada pós-pandemia é preciso discutir a adoção de políticas industriais modernas. Um novo consenso, baseado em experiências internacionais frente a um novo paradigma tecnológico e sustentável, recoloca o setor industrial como o motor da retomada econômica. O Sumário Executivo, que reúne diretrizes, também será entregue a todos os candidatos à Presidência da República.

Elas buscam recuperar o crescimento econômico sustentado a fim de encaminhar soluções estruturais para a economia brasileira e abordam os seguintes temas: ambiente econômico, reforma tributária, política industrial, política de inovação e tecnologia, comércio exterior, infraestrutura, educação, política social, construção civil e habitação, agronegócio, economia verde, modernização trabalhista, segurança jurídica.

Por Solange Sólon Borges e Sarah Toledo, da Agência Indusnet Fiesp

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